A preocupação crescente da sociedade com o desenvolvimento sustentável tem levado as empresas de moda a investirem tempo e dinheiro em viabilizar seu negócio tendo em mente o meio ambiente. Há várias iniciativas nessa área que vão além dos requisitos básicos exigidos em lei e todas ajudam as empresas a fazer bons negócios.
Matéria-prima limpaAcompanhando os lançamentos das coleções, percebe-se vários investimentos na cadeia produtiva das fibras alternativas, sejam elas orgânicas, como o algodão colorido no pé, ou simplesmente mais duráveis, como tecidos de fibra de bambu. Além disso, processos mais limpos, eficientes e certificados internacionalmente também fazem sua parte na manutenção do meio ambiente.
“O algodão colorido naturalmente atenua ou dispensa a necessidade de tingimento”, explica o professor de Tecnologia Têxtil da Feevale, Luiz Carlos Robinson. “Apenas este processo é responsável por maior parte da poluição da indústria têxtil e esta economia compensa a produtividade 10% menor em relação ao branco”.
Apesar do processo de industrialização diferenciado, as roupas produzidas com ele não diferem em qualidade das produzidas com a matéria-prima comum. Mesmo assim, muitos fabricantes têm preferido apostar em looks mais “naturais”, que comuniquem bem seu caráter ecológico.
De acordo com maior parte dos especialistas de marketing, um dos mandamentos fundamentais em qualquer estratégia de valorização é comunicar os elementos de diferenciação, mesmo que isso signifique não seguir a moda do momento.
Com esse cenário favorável e uma produção muito menor, o algodão alternativo ainda é pouco representativo no mercado (menos de 2% de todo o algodão mundial é orgânico) e as empresas do segmento disputam o acesso à matéria-prima à tapa. Por esse motivo, os produtos fabricados são mais caros, independente dos looks.
Paralelo a isto, tem-se percebido uma presença marcante de “linhas verdes” no catálogo de boa parte dos expositores das feiras cobertas pela UseFashion. Mês passado, notamos isso na FEMATEX (Feira Internacional para a Indústria Têxtil e Confecção), em Blumenau (SC).
A
Horizonte Têxtil (requer login), por exemplo, está introduzindo no mercado sua lona construída com trama de fio de poliéster reciclado a partir de garrafas PET e urdume de fios de algodão reciclados de sua própria fiação. Segundo por Monika Debasa, Gerente de Produto da empresa, o foco é o uso em sacolas e bolsas com temática ecológica, além de calçados e móveis.
Além de ocupar um nicho de mercado bastante promissor – basta ver a
mobilização de consumidores contra as sacolas plásticas em vários municípios brasileiros – a empresa garante não canibalizar seus outros produtos por ter um propósito bem determinado. Ou seja, linhas ecológicas se focam em mercados de ativistas, ao contrário de buscar o público geral. Obviamente que quanto mais ativistas surgirem no mercado, tanto melhor para o faturamento da companhia.
Controle rígido e tecnologiaNa contramão dos nichos ecológicos, a solução das empresas preocupadas com o desenvolvimento sustentável pode ser uma recomendação comum de qualquer administrador: investir em tecnologia e produtividade. O raciocínio é simples: quanto mais eficiente for o processo, menos recursos serão desperdiçados, os produtos ficam mais baratos e todos juntos salvam o meio ambiente.
“Um avanço interessante na indústria têxtil é a utilização de fiação com `jato de ar´, que são mais produtivos, mais dinâmicos e possibilitam a produção de fibras têxteis com menor diâmetro, portanto mais leves”, conta Luiz Carlos Robinson. Segundo dados de estudiosos, uma fiação à jato de ar produz 180 m/hora sem geração de pó, ao passo que uma fiação mecânica mal chega a uma fração disso.
Usando a tecnologia de fiação à jato de ar, a empresa de fios especiais H. Marin disponibilizou no mercado um fio misto com alto teor de poliéster proveniente de PET. “Os fios mistos misturam algumas vantagens dos filamentados sintéticos, como alta tenacidade, com as características suaves das fibras naturais”, explica o empresário Antônio Marin. Com isso, é possível empregar o fio misto tanto para a trama quanto para o urdume na fabricação de tecidos planos.
Busca pela certificação trouxe ganhosAliada às melhoras trazidas pela tecnologia, o incremento em qualidade e eficiência proveniente de melhores práticas de gestão e controle implantadas a partir das certificações ISO 14.000 e OEKO-TEX-100 certamente tem um impacto maior.
Em 98, quando o Grupo Vicunha começou a trabalhar mais intensamente em eficiência de recursos energéticos para obter sua certificação ISO 14.000, o seu consumo de eletricidade por metro de jeans produzido era 2,8 Kw. Hoje, 10 anos depois, é de 2,3 Kw/m. A redução substancial de 17% no total consumido se deve a um trabalho para otimizar o uso de energia premiado pelo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) em 2003.
“Hoje reutilizamos em torno de 65% da água utilizada no processo”, explica Fred Lapa, o gerente de controle de qualidade índigo e brim da empresa. Além disso, passou a medir com mais carinho o gasto de vapor e a emissão de efluentes.
Além dos ganhos econômicos e ecológicos em diminuir o desperdício, a indústria tem uma motivação especial para cuidar da natureza: o selo OEKO-TEX-100. Alguns países europeus importam apenas tecidos com esta certificação.
Por outro lado, manter-se a par do mercado e da moda pode ser trabalhoso. Segundo Fred, é necessário pesquisar e desenvolver novos produtos que impactem menos no meio ambiente para não ficar para trás do mercado.
Fonte:
Daniel Bender /
UseFashionFotos: Horizonte Têxtil/Divulgação, Vicunha/Divulgação e UseFashion