"Queremos neste momento trazer o foco das discussões sobre sustentabilidade no ser humano, o indivíduo inserido nas grandes metrópoles do mundo e o surgimento da nova criatividade que emerge do caos", explicou o mentor e diretor-geral da SPFW sobre a edição Outono-Inverno 2008 (de 16 a 21 de janeiro). A 24ª edição do evento trouxe como tema “Uma Babel para o século 21” e, além do tradicional line-up super fashion, surpreendeu pelas manifestações de ícones da cultura contemporânea.
Na sexta-feira, 18 de janeiro, a Dame inglesa Vivienne Westwood (foto1 acima) soltou o verbo com uma leitura dramática do seu Active Resistance to Propaganda (Resistência Ativa à Propaganda), manifesto que mescla desde personagens de contos infantis a filosofia grega para defender que só a cultura pode nos tornar mais humanos e menos destrutivos.
No sábado, 19, o Ministro da Cultura Gilberto Gil (foto 2 acima) concedeu entrevista em uma coletiva de imprensa para discutir sobre o desenvolvimento da moda nacional. "A moda brasileira oferece a possibilidade de associar novos produtos à indústria, como matérias naturais e artigos reciclados", afirmou, ressaltando ainda que o Brasil ocupa um lugar importante na produção mundial.
Quando questionado sobre o manifesto apoiado pela britânica Vivienne Westood, Gil disse que o entende como uma maneira de regulamentar o consumo desenfreado. "É preciso reformar os modelos de produção para que haja uma indução natural à diminuição do consumo exacerbado", afirmou. De acordo com ele, este controle é a única maneira de frear as ameaças ecológicas.
As grifes também não deixaram de lado a preocupação sócio-ambiental. Oskar Metsavaht manteve o couro ecológico nos casacos da Osklen (foto 3) para surfistas urbanos. Raquel Davidowicz, da Uma (foto 4), trouxe peças estampadas com micro-poemas da designer, poeta e artista plástica Mana Bernardes. "As jóias também são da Mana, ela trabalha só com materiais reciclados e vende super bem em lojas como a Colette (em Paris)", conta Raquel.
A Cavalera apresentou sua coleção outono-inverno 2008 no domingo, mas fora do Pavilhão da Bienal. A idéia do estilista e diretor criativo Marcelo Sommer foi promover um desfile-manifesto sobre os problemas ambientais da cidade de São Paulo, apresentando seus looks às margens do rio Tietê, com a platéia a bordo de um barco. Para suportar o aroma nada agradável e o clima inóspito, os convidados receberam máscaras e capas de chuva (foto 5). Exercitando o verbo reciclar, a marca resgatou tecidos do seu estoque para produzir os novos looks (foto 6).
Reforçando o clima de permanência e autonomia na moda, especialistas decretaram o fim das tendências. "Porque tendência é uma palavra que não existe mais. A partir do momento que você tem mais de 800 desfiles por temporada, do mundo inteiro, cada estilista fala o que ele tem na cabeça e a mulher fica louquinha, perdida no caos", esclarece a editora de moda Regina Guerreiro.
Para Paulo Borges as estações não são mais as mesmas também. "A criação hoje é muito efêmera, cada vez mais rápida. Essas nomenclaturas de inverno e verão não existem mais, estão caindo em desuso. Ninguém mais compra uma roupa porque é verão ou inverno. Compra porque é uma idéia nova, uma imagem nova", reflete.O fato é que 'promessas' para o Verão 2008 desfilavam pelos corredores da Bienal, no Parque do Ibirapuera.
Se a moda brasileira é nova, introduzir conceitos de sustentabilidade nesse mercado em densa expansão parece um parto prematuro. Salvam-se aqueles que estiverem conscientes dessa nova ordem (que nasce do caos), politizada e guardiã da memória, que não esquece que inovação é vanguarda no dicionário fashionista.
23 de janeiro de 2008 às 20:19
Maravilhoso seu blog, e toda a idéia por trás dele! Jornalismo de Moda do futuro, aqui e agora!
Favoritadíssimo!
11 de fevereiro de 2008 às 21:06
só agora vi esse sue post, cat! genial, adorei! =)